Da existência humana e do ciclo sem fim

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Por Ivan Ferreira de Campos

Neste texto tenho por objetivo trazer uma reflexão sobre nós, a forma como vivemos, pensamos e agimos, seja no ambiente privado, seja em nossas rotinas sociais ou em nossa vida profissional. A reflexão é uma proposta de busca por compreensão, em especial no tocante ao fato de que somos seres de uma espécie dominante e que não importa o momento de nossas vidas e as pessoas com as quais nos relacionamos, buscamos exercer o domínio.

É claro que existem exceções, e estas são as pessoas que preferem ser dominadas, ou seja, preferem que exista uma influência, um manual de instruções a ser seguido que fora determinado por alguém, e dentro das diferentes realidades que existem, estas pessoas entendem que é mais fácil viver sob a premissa de que há uma ordem natural das coisas, do que mudar essa ordem.

Pensando no mundo dos negócios e em nossa vida profissional, existem “Dinossauros” dominantes com o T-Rex e existem aqueles que nunca dominarão como os Brontossauros, que seguem suas vidas de acordo com as possibilidades e não precisam de muito mais que água ou suas plantinhas.

O grande problema é que o mundo e em específico o mundo dos negócios não querem Brontossauros, querem um T-Rex, sendo que as empresas exercem esse papel de dominação e o sistema capitalista é totalmente idealizado com base nas contradições existentes em uma sociedade de capital e consumo em que apenas os que dominam e aqueles capazes de exercer dominação são valorizados. Assim a reflexão sobre a natureza humana em nossa essência, nos coloca diante de um reflexo em que devemos pensar em nós como parte desse processo, desse sistema, dessa existência.

 Existem pensamentos e ações que se refletem na maioria das coisas da vida cotidiana, sendo que muitas vezes não pensamos em como agir, não analisamos as consequências de nossas ações, tampouco os aspectos relacionados a como nossas ações impactam o futuro. O ser humano é fruto de um aprendizado contínuo, mas não aprende com seus erros, ao contrário, procura respostas para situações e problemas que ele mesmo causou e não compreende que existem situações e circunstâncias que poderiam simplesmente ter sido evitadas.

Quando assumimos que o ser humano pensa, naturalmente estamos diferenciando este das demais criaturas da Terra, e isso tornaria o homem enquanto ser como único capaz de desvendar os próprios mistérios, ou seja, quem somos, de onde viemos, para onde iremos. Todavia justamente por pensarmos, nunca encontramos a plenitude da vida e tampouco as respostas, embora esta necessidade seja latente em nossa existência.

O ser humano enquanto único que é, tem a necessidade infinita pelas respostas que representem o significado de sua existência, sendo que isso passou pelas diferentes maneiras de sobrevivência e depois evolução e domínio. A sobrevivência está no centro de existência de nossa espécie, ontem, hoje e sempre, sendo que primeiramente foi necessário que o homem compreendesse o meio em que vivia e em seguida a partir desta compreensão este passou a buscar as diferentes formas de usar este meio a seu favor. Isso tornou o homem senhor de si mesmo, dono do mundo, de seus recursos e das demais espécies.

Ao mesmo tempo criou diferentes situações problemáticas que partiram da busca contínua por melhores condições de subsistência, à necessária procriação e a primazia sobre os outros. Ou seja, o homem precisava ser forte, e precisava estar acima dos outros homens, tornando o senso de sobrevivência e prevalência em relação às outras espécies um senso de poder e primazia sobre os outros homens, fazendo surgir a tirania e o poder.

Isso foi agravado com a evolução social e o surgimento dos sistemas econômicos, em especial quando tivemos o advento das indústrias e do Capitalismo, sendo que a partir daí não bastava mais ser diferente dos demais, não bastava ser a espécie capaz de pensar e mudar o meio a seu favor, não bastava a compreensão de que os recursos estavam ali e poderiam servir ao intuito de tornar a espécie capaz de evoluir e crescer em número e condições de sobrevivência. Era necessário que dentre os homens surgissem aqueles que poderiam guiar os demais, as empresas, os grupos econômicos, os governos modernos e seus sistemas de governo que reproduzem o sistema social, político, de consumo, os líderes centralizadores e gananciosos, e os líderes poderosos, aqueles capazes de manter a espécie viva.

Ao mesmo tempo, em meio aos homens surgiram aqueles que serviriam aos demais, e compreenderiam que uma vez que não seriam capazes de subjugar outros, estes deveriam servir aos outros, garantindo assim em meio a um senso de subsistência e subserviência, as condições mínimas para que fossem úteis aos intentos daqueles que liderariam a existência humana. Estes homens, servos, garantiriam que as engrenagens do sistema recém-criado pudessem funcionar, colocariam sua força e talentos à disposição dos demais, e cada um em sua posição de
“peões” seria capaz de manter-se vivo e ao sistema, permitindo-se vez ou outra deslumbrarem-se com aquilo que estavam criando, ainda que nunca fossem reconhecidos como os protagonistas da vida, mas sim como peças passíveis de substituição.

Essa é a existência humana, em que o homem em busca da manutenção de si e de sua existência, encontrou no poder e no capital, a resposta para continuar vivo, perpetuando assim seu legado neste mundo, ao mesmo tempo em que se desenvolveu enquanto líder de seus pares. Este mesmo ser humano encontrou em sua imagem espelhada, seu lugar em meio à existência, passando a servir a seus pares e se resignando ao fato de que não serviria para liderar ou manter sua existência sem o poder atingido por alguns de seus irmãos ou irmãs de sangue.

A história nos conta que este ciclo se repete indefinidamente, sempre de maneiras distintas, e que sempre haverá aquele ou aquela que subjuga a tudo e a todos, e os que são subjugados, mantendo assim a “harmonia” e tornando viável a existência humana, e sua natureza em um ciclo sem fim…

Até a próxima!

Ivan Ferreira de Campos – Administrador, Consultor, Professor Universitário.

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